quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A vontade de Cláudio Milar

Nesta quinta-feira, fui pela Rádio GUAÍBA ao CT Parque Gigante acompanhar o último treino do Inter antes do enfrentamento contra o Esportivo. Porém, o maior fato da tarde não foi o treinamento em si, mas o papo que tivemos (nós, repórteres) com o auxiliar técnico Odair Hellmann. Ele, que trabalhou com Clemer, Dunga e agora faz o mesmo com Abel Braga, também foi jogador de futebol. E, para quem não lembra, encerrou a carreira no Brasil de Pelotas - justamente após o fatídico acidente que vitimou três funcionários do Xavante, entre eles o atacante e ídolo Cláudio Milar. Odair nos contou detalhes daquela noite triste e a sua própria história de superação para sobreviver após o capotamento do ônibus que levava a delegação de volta ao Bento Freitas.

Odair revelou que viaja ao lado de Milar e, aos goles de chimarrão, o uruguaio lhe confidenciou que estava insatisfeito. Que jamais o Brasil havia saído de Pelotas para fazer um amistoso de pré-temporada - ainda mais aquele, com 4 horas de viagem. Então, ele estava cansado, iria abandonar a carreira. Queria passar mais tempo com a família. A conversa corria estrada adentro, quando apareceu a curva que derrubou o time inteiro barranco abaixo. Ironia do destino: Cláudio Milar resolveu se abrir com um companheiro de equipe, revelar que largaria o futebol, justamente no dia em que iria morrer. Não sei se Odair permite que eu conte esta história. Mas achei que ela merecia ser contada.

Merece para percebermos que tudo deve ser feito. Se você tem vontade de fazer algo, que o faça! Assim deve ter pensado Marcelo Mabília ao pedir o seu desligamento do Grêmio. Não sei qual será o plano do técnico sub-20 agora. Se vai se arriscar na carreira entre profissionais, morar em Florianópolis ou criar gado no interior do Estado. Sei lá! Só sei que ele tem a razão e a emoção do seu lado. Teve vontade de fazer, que o faça! Daqui a pouco pode ter o mesmo destino de Roger Machado, que deixou o Grêmio por alguns meses e então foi contratado pelo Juventude. Talvez esta não seja a vontade de Mabília. Enfim, seja o que for, ele sabe o que faz. E, principalmente, fez com vontade.

*Este comentário foi ao ar às 21h30min no programa 'Plantão Esportivo' da Rádio Guaíba.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Abel talvez não precise de um novo Pedro Júnior

Abelão resolveu fechar o treino desta sexta-feira. Será que vai preparar alguma mudança para o clássico do próximo domingo? Pois eu digo que deveria. Aliás, venho dizendo a um bom tempo. Até quando o treinador vai conseguir escalar este Inter ofensivo? Não é novidade para ninguém ver Abel Braga mandar a campo uma escalação 'para-frentex'. E ele até já pagou seus pecados por isso.

O ano foi 2006. Abel tinha poucos meses no comando, em sua 4ª passagem pelo Beira-Rio, que culminaria com o título mundial em Yokohama. E talvez, não fosse o gol de Pedro Júnior, não tivesse chegado lá. Mas houve o tal gol, que tirou das mãos do favoritao Inter de Abel a taça de campeão gaúcho. Contra um Grêmio modestíssimo, treinado por Mano Menezes, o Colorado empatou em 0 a 0 no Olímpico e saiu na frente (gol de Fernandão) na grande final disputada no Beira-Rio. Eis que Pedro Júnior, que sequer era titular no Tricolor, entrou em campo e deixou sua marca nas redes utilizando a nuca. Conta a lenda que após ver a conquista frustrada, o então presidente Fernando Carvalho convocou uma reunião e pediu/exigiu de Abel uma escalação mais cautelosa, um time mais defensivo. A partir dali, entraram na equipe Edinho e, posteriormente, Alex. E a história rumou para o que todo mundo já conhece.

Clemer; Ceará, Bolívar, Ediglê e Rubens Cardoso; Fabinho, Tinga e Mossoró; Michel, Fernandão e Iarley - este é o time que perdeu para o Grêmio de Mano. Muriel; Gilberto, Paulão, Juan e Fabrício; Willians, Aránguiz e Alex; D'Alessandro, Rafael Moura e Jorge Henrique - este é o Inter utilizado na goleada de 4 a 1 sobre o Cruzeiro, na semana passada. Abel Braga será corajoso em repetir a dose neste domingo, na Arena? Talvez não seja necessário um 'novo Pedro Júnior'. Se for, alguém terá de tomar a atitude de Fernando Carvalho.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Kleber pode ser Harlei

Foto: Reprodução da TV Anhanguera

Da vitória de 1 a 0 do Grêmio sobre o Veranópolis, nesta quarta-feira, poucos se salvam. Talvez o zagueiro Rhodolfo, o latera Wendell e principalmente os meninos Jean Deretti e Luan, que entraram no segundo tempo. O resto é praticamente desesperador. E nem falo pelo clássico Gre-Nal de domingo, mas pela Libertadores que bate à porta. E o torcedor sabe disso. A prova é que não poupou a equipe de vaias no intervalo. E, um jogador em especial, teve seu pé agarrado pelas arquibancadas: Kleber. Aliás, para quem não percebeu, Barcos marcou e correu para o banco de reservas apontando para seu companheiro de ataque, oferecendo o gol a ele.

A direção, através de Rui Costa, também faz questão de defender o atacante. Também encerrou qualquer especulação sobre um troca-troca envolvendo Emerson Sheik, do Corinthians. Acredita até mesmo que o episódio recente de uma briga em uma boate (junto do reserva Paulinho) tenha contribuído para o ranço com Kleber. Pode ser. Perguntei ao técnico Enderson Moreira o que estaria acontecendo com o Gladiador, a resposta foi de que ele prefere "não individualizar". Entretanto, quando perguntado se já havia sacado da equipe um jogador emblemático como Kleber em suas passagens por outros clubes, disparou: "Um treinador que trabalha num grande clube deve estar preparado. Já fiz a troca de um ídolo no clube porque achei que era o melhor. Seja no Goiás ou no Fluminense, sempre fiz escolhas pensando no melhor para o clube" - mas não quis abrir de quem se trata - "Aí vocês vão ter que pesquisar", complementou Enderson.

A frase foi a chave para que eu puxasse meu celular do bolso e digitasse no Google: 'Enderson barra...'. Em seguida, veio uma matéria datada de 2013, fazendo referência ao goleiro Harlei, do Goiás. Na ocasião, às vésperas de enfrentar o Corinthians pelo Brasileirão, o treinador optou por escalar o ex-colorado Renan, que dali por diante iria como titular até o fim do certame: "O Harlei é o maior idolo da historia do Goiás, temos o maior respeito por ele. Nenhum clube faria um contrato de duas temporadas com um jogador de 40 anos. A gente acredita nele, já estamos buscando um substituto e ele vai ser importante até para nos ajudar nisso. Substituir um goleiro como o Harlei e ser comparado a ele, é difícil. Se isso acontecer, não vai ter chance", descreveu Enderson. E agora, quem poderá ser o Renan de Kleber - se é que ele vai receber o mesmo tratamento de Harlei.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ramires ou Tinga?

Foto: Tomás Hammes (Globoesporte.com)

Pobre Augusto, quem mandou arrebentar no treino antes do jogo? Ao marcar gols no coletivo que definiu o time de Abel Braga para a 6ª rodada do Gauchão, o meio-campista, que volta do empréstimo à Chapecoense, se transforma na grande expectativa do torcedor colorado para esta quarta-feira. Se não tiver uma boa atuação diante do Pelotas, está prestes a virar chacota. Não faltará alguém dizendo: 'Ué, mas não estava aí o novo Ramires, o novo Tinga?'. Um crime!

Desta vez, faço 'mea-culpa'. Em nenhum momento Augusto disse que era o 'novo' alguém. Sempre teve colocado diante de si as comparações. Na coletiva de imprensa desta terça não foi diferente. Questionado sobre com quem mais se assemelhava, a Tinga ou Ramires, ele respondeu: "Eu acho que mais com o Tinga, mais de chegada e determinação mesmo." Porém, na pré-temporada, quando o compararam ao meia do Chelsea-ING e Seleção Brasileira, caiu na armadilha: "Sou um jogador de bastante pegada e determinação. Sou veloz, chegou bastante à frente. Acho que sim. É bem parecido. Temos as mesmas características." Augusto não tem culpa. Nem nós, repórteres.

A comparação é algo inevitável na vida. Até mesmo para descrever o futebol de um jogador que está surgindo, todos temos esta mania. Daí surgiram tantos 'novos Pelé', 'novos Maradona'. Pobres meninos! "Vocês já estavam querendo comparar o Augusto com Tinga. Tem que ter calma!", declarou o técnico Abel Braga recentemente. Ele está certo. Tem que ter muita calma! Mas é inevitável. Sempre irá se comparar um jogador do presente com o do passado (nem que seja recente). E se ele não der certo, azar é do guri. Por isso, quando alguém pedir para eu descrever Augusto a partir de agora, por pena dele, vou dizer apenas: é aquele volante que sabe fazer a terceira função do meio-campo, que tem agradado ao Abel e que fez Josimar perder o mínimo espaço até ser emprestado ao Palmeiras. Mais justo, né?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A passionalidade contra Enderson e Rafael Moura

Fotos: Lucas Uebel (Grêmio) e Fernando Teixeira (Futura Press)

O torcedor é passional. Esta é uma das frases mais ditas no mundo futebolístico. E cada vez que se diz, não se inventa a roda ou descobre o fogo. Simplesmente se constata uma das maiores verdades. Neste domingo, Enderson Moreira e Rafael Moura puderam experimentar um pouco da paixão e da raiva das arquibancadas variando em questão de minutos. O técnico gremista no empate em 1 a 1 com o Juventude e o centroavante colorado na goleada de 4 a 1 sobre o Cruzeiro, em Novo Hamburgo.

Estive em Caxias do Sul. Fiquei postado logo à frente da torcida gremista, próximo de onde estouraram os rojões no goleiro Fernando. Ao entrar em campo, o time do Grêmio foi saudado com aplausos e cânticos apaixonados. Aos poucos, o amor foi virando ódio, graças à impaciência travestida de torcida. Bastou Zulu abrir o placar para os donos da casa para que o alvo fosse apontado. Enderson, colocado à casamata a metros do torcedor, ouviu impropérios que não se fala nem ao pior inimigo. Do óculos ao jeito de se comunicar com os atletas - tudo foi motivo para aumentar a irritação dos aficionados dependurados no alambrado. "Isso aqui é Grêmio, não é o Goiás!", berrava um mais exaltado. "Coloca o Paulinho!", gritava outro ao seu lado. Eis que o treinador chamou Jean Deretti. Um misto de vaias com aplausos. Até que a mexida deu certo, o meio-campista participou do gol de empate de Wendell e Enderson virou gênio. Enfim, ele não é o maestro que pintou ser na goleada sobre o Aimoré, tampouco o asno que desenharam alguns torcedores no Jaconi. "O torcedor é assim, vai cobrar, querer vitórias e conquistas. Tenho a certeza que vamos melhorar, fazer bons jogos e buscar as vitórias", respondeu ele após o jogo.


Pois Rafael Moura fez exatamente o contrário. Ao invés de acalmar os ânimos, pôs gasolina no incêndio. Vaiado, ouviu de dentro de campo os pedidos: "Ei, Abel. Tira o Rafael!". Não aguentou. Bastou marcar o gol de desempate contra o Cruzeiro para se voltar contra as arquibancadas. Com o dedo em riste diante da boca, pedia o silêncio dos 'cornetas'. D'Alessandro, capitão do Inter, percebeu a bobagem e o 'gravateou'. Minutos depois, com o auxílio do argentino, He-Man foi aplaudido. Ao final do jogo, o atacante foi defendido por dirigentes, colegas de equipe e pelo técnico Abel Braga: "O torcedor é paixão pura, ele aplaude como vaia. Mas eu o conheço, ele vai pedir desculpas porque é um cara do bem e eu assumo a responsabilidade sobre ele. E se daqui a 4 ou 5 jogos não estiver bem, ele sai e entra outro", comentou o treinador. Eis a passionalidade tão difícil de compreender mostrando suas garras. E 2014 apenas começou.