Fotos: Lucas Uebel (Grêmio) e Fernando Teixeira (Futura Press)
O torcedor é passional. Esta é uma das frases mais ditas no mundo futebolístico. E cada vez que se diz, não se inventa a roda ou descobre o fogo. Simplesmente se constata uma das maiores verdades. Neste domingo, Enderson Moreira e Rafael Moura puderam experimentar um pouco da paixão e da raiva das arquibancadas variando em questão de minutos. O técnico gremista no empate em 1 a 1 com o Juventude e o centroavante colorado na goleada de 4 a 1 sobre o Cruzeiro, em Novo Hamburgo.
Estive em Caxias do Sul. Fiquei postado logo à frente da torcida gremista, próximo de onde estouraram os rojões no goleiro Fernando. Ao entrar em campo, o time do Grêmio foi saudado com aplausos e cânticos apaixonados. Aos poucos, o amor foi virando ódio, graças à impaciência travestida de torcida. Bastou Zulu abrir o placar para os donos da casa para que o alvo fosse apontado. Enderson, colocado à casamata a metros do torcedor, ouviu impropérios que não se fala nem ao pior inimigo. Do óculos ao jeito de se comunicar com os atletas - tudo foi motivo para aumentar a irritação dos aficionados dependurados no alambrado. "Isso aqui é Grêmio, não é o Goiás!", berrava um mais exaltado. "Coloca o Paulinho!", gritava outro ao seu lado. Eis que o treinador chamou Jean Deretti. Um misto de vaias com aplausos. Até que a mexida deu certo, o meio-campista participou do gol de empate de Wendell e Enderson virou gênio. Enfim, ele não é o maestro que pintou ser na goleada sobre o Aimoré, tampouco o asno que desenharam alguns torcedores no Jaconi. "O torcedor é assim, vai cobrar, querer vitórias e conquistas. Tenho a certeza que vamos melhorar, fazer bons jogos e buscar as vitórias", respondeu ele após o jogo.
Pois Rafael Moura fez exatamente o contrário. Ao invés de acalmar os ânimos, pôs gasolina no incêndio. Vaiado, ouviu de dentro de campo os pedidos: "Ei, Abel. Tira o Rafael!". Não aguentou. Bastou marcar o gol de desempate contra o Cruzeiro para se voltar contra as arquibancadas. Com o dedo em riste diante da boca, pedia o silêncio dos 'cornetas'. D'Alessandro, capitão do Inter, percebeu a bobagem e o 'gravateou'. Minutos depois, com o auxílio do argentino, He-Man foi aplaudido. Ao final do jogo, o atacante foi defendido por dirigentes, colegas de equipe e pelo técnico Abel Braga: "O torcedor é paixão pura, ele aplaude como vaia. Mas eu o conheço, ele vai pedir desculpas porque é um cara do bem e eu assumo a responsabilidade sobre ele. E se daqui a 4 ou 5 jogos não estiver bem, ele sai e entra outro", comentou o treinador. Eis a passionalidade tão difícil de compreender mostrando suas garras. E 2014 apenas começou.
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