Foto: Matheus D'Avila (Rádio Guaíba)
Prestes a completar um ano como dirigente no departamento profissional de futebol do Grêmio, Marcos Chitolina concedeu uma entrevista de 30 minutos ao programa PRELEÇÃO da RÁDIO GUAÍBA. Neste bate-papo, revelou os momentos mais tensos da temporada, as alegrias e também as pretensões para 2014. Confira aqui os principais trechos:
- Como foi o convite para entrar no departamento profissional de futebol?
"Eu estava em Barcelona após a eleição do presidente. Fiz uma viagem particular e fui conhecer o CT (Centro de Treinamentos) do Barcelona. Ele é um modelo para todos os clubes, e inclusive disse isso ao presidente Fábio Koff, que o nosso CT deveria ter o profissional junto com o amador em Eldorado. E enquanto eu estava lá, o presidente me ligou para ser o diretor das categorias de base. Eu aceitei, nós contratamos o Júnior Chávare para executivo (seria o Rui Costa da base). Mas aí o Omar Selaimen, por motivos particulares, resolveu deixar o clube e o presidente pediu para eu ficar. Meu primeiro jogo como profissional foi em Ijuí, contra o são Luiz (dia 31 de janeiro de 2013)."
- Qual o tamanho do aprendizado com o presidente Fábio Koff?
"O presidente Fábio Koff é ímpar no futebol brasileiro, eu diria que é o dirigente mais vencedor. Não podia ter outra pessoa nesse momento difícil da vida financeira do Grêmio, momento de transição para uma nova casa. Não desmerecendo a ninguém, mas a pessoa mais capaz dentro dos quadros diretivos é ele. Em um ano ao lado dele, parece que estou fazendo uma pós-graduação no futebol. Temos discussões, concordamos em algumas coisas, mas concordamos em muitas."
- Pensa em ser presidente do Grêmio no futuro?
"Todo o torcedor do Grêmio gostaria de ser presidente. Mas não basta isso. É um cargo muito importante, tem que estar preparado. Não basta apenas passar pelo departamento de futebol. É pouco. Eu venci na vida como um administrador, tenho duas empresas, mas não basta isso. Tem que conhecer como funciona um clube, como funciona o futebol no cenário mundial, ter relações nacionais e internacionais, ter habilidade política, e isso tu ganhas com a bagagem. Eu tenho este sonho, todo o gremista tem. Mas temos que ter experiência. Pode querer ser candidato. Daqui a três anos é impossível. Mas daqui a 10 anos, não sei."
- Qual o pior momento no Grêmio?
"Eu tenho um método de trabalho, que comando minhas empresas e quero aplicar no Grêmio. Eu me indigno quando as coisas dão errado. E teve uma situação crítica, um desgaste muito grande com o treinador anterior. Nada contra o Vanderlei (Luxemburgo), acho um grande treinador, mas as coisas não se encaixaram. Não tinha mais espaço pela situação e método que foram criados. O método não fechou com o meu. Coloquei minha posição ao presidente, tivemos alguns atritos, e este foi o pior momento."
- Chegou a se comentar que o Luxemburgo disse que não trataria os assuntos com um 'garoto de recados', se referindo a você. Isso aconteceu?
"Eu vi certas coisas que estavam acontecendo erradas e o presidente pediu para eu tratar. Dali por diante, acabou o treino e existiu uma discussão entre nós. Exigi algumas coisas que não foram aceitas e achei melhor encerrar o ciclo. Falei com o presidente, ele tentou reverter algumas coisas naquele dia. Não foi possível e se tomou a atitude que tinha de ser tomada. Repito: não tenho nada contra a pessoa. Quando as pessoas não fecham na questão de trabalho, as coisas não vão dar certo. O vestiário tem que ser solidário. É isso que nós estamos pregando."
- E o melhor momento no Grêmio?
"Quando nós trocamos o treinador, o presidente nos chamou eu e Rui Costa e prontamente achamos que o Renato (Portaluppi) poderia fazer um trabalho para nos levar a uma condição melhor. Após seis horas de reunião, acertamos com o Renato. E depois tivemos seis ou sete vitórias seguidas e começamos a retomar o espírito que eu achava que o Grêmio tinha que jogar. Não só eu achava, como o torcedor acha. Sou um torcedor do Grêmio! Chegou um ponto que eu enxergava o Grêmio, mesmo sem fazer grandes apresentações, dando carrinho e buscando a vitória de qualquer jeito. Resgatamos o espírito e este foi o melhor momento, porque me via em 1983 e na década de 90, com a forma do Grêmio jogar, pegador."
- A crise que o Grêmio vive é a maior da história do clube?
"Não, o próprio presidente Koff já pegou em situação pior. Vivemos esta crise hoje porque o Grêmio é o único time do mundo que, neste momento, paga para jogar em casa e jogar fora. Então, criou uma situação que trancou o fluxo de caixa. Mas estamos criando situações, com a capacidade do nosso executivo Rui Costa, de buscar jogadores a custo zero praticamente e colocando-os na vitrine, para estabilizar o Grêmio. Não temos renda de bilheteria. Agora que estou dentro do departamento de futebol, sei que o Grêmio antigamente pagava seus bichos com a renda. Hoje não podemos chegar no vestiário e dizer que a renda é dos jogadores. Mas nós temos uma base, que não pode ser criticada como ruim, pois foi vice-campeã brasileira. Também temos uma categoria de base muito boa. Mas o torcedor pode ter certeza que o trabalho que está sendo feito na base, vai dar resultado. Não existe uma varinha mágica que, em 6 meses, vamos formar vários jogadores. Se tiver sequência, daqui a 2, 3 ou 4 anos vamos revelar três ou quatro jogadores importantes para a sobrevivência e para a equipe."
- Obrigado, Chitolina. E boa sorte para este ano com muita expectativa com Libertadores.
"Obrigado, Filipe. Eu só sinto por uma situação. Assim como o futebol te dá muitos amigos, ele te tira muitos amigos. E eu perdi alguns amigos pela passionalidade do futebol. Eu fui torcedor também, sei como é. Já fiz críticas e entendo. Eu também não tinha noção quando criticava os dirigentes. Mas nosso trabalho de bastidores, de dia-a-dia, é muito árduo. A gente move montanhas para realizar certas coisas, e às vezes se consegue, às vezes não. Eu gostaria de terrminar a gestão Fábio Koff como um dirigente vencedor, mas minha ambição não é pessoal. Quero transformar o Grêmio em vencedor, estando o Chitolina no futebol ou não. Recebo críticas e aceito-as. Estamos trabalhando demais para vencer, mas isso só não basta. Temos que ter sorte também."
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