Amor Platônico - A Lupa no Gramado
Cinco meses e 24 dias (quase um semestre). Este foi o tempo que durou o trabalho de Paulo Autuori no comando do Grêmio. Foi quase um amor de verão, de adolescente, daqueles que se começa em dezembro, antes do Natal, e se acaba antes mesmo do retorno às aulas. Para outros, uma paixonite. Com validade pré-estabelecida. Paulo Autuori não foi contratado como um Mário Sérgio, não era um simples tampão. Foi trazido a Porto Alegre para tomar conta das categorias de base gremista, para promover a utilizaçã dos garotos, dar palpites sobre contratações, dispensas, enfim. Até mesmo o local da pré-temporada gremista partiu das vontades do treinador. Chegou por causa de um currículo extenso. Era a menina dos olhos da direção gremista. Inclusive, o desembarque dele foi festejado com aleluias. Alguns chegaram a pensar que finalmente o Grêmio perdia o "DNA do fracasso". Para resumir, nem bem tinha terminado o namoro com Celso Roth, já pedia a mão de Autuori em casamento. Estava completamente apaixonado.
Pois foram só as primeiras derrotas e eliminações começarem a aparecer para que a torcida desconfiasse do jeito Autuori de ser. "Ele não tem a cara do Grêmio!", acusaram alguns. Nem por isso a direção o mandou embora. Bancou Paulo e a comissão técnica. Tudo pelo bem do projeto. Em 2010 tudo seria diferente! O treinador teria jogadores de renome nas mãos, conheceria os garotos da base como ninguém e poderia, enfim, dar os títulos que a torcida queria. Quem sabe 2011 não seria o ano do bi-Mundial?
E agora, com todas as vontades realizadas, flores e bombons mandados, Paulo Autuori fez a desfeita. O antigo dono o chamou de volta. No Catar, ele receberá quase o triplo do que ganha no estádio Olímpico. Ele pensa na família, pensa nos filhos, pensa em tudo. Mas esquece da torcida que esperou pacientemente a sua chegada, demorada tal qual uma gestação. Deixou o Grêmio a "catar" coquinhos. Mas antes de sair pela porta da frente, não seria espanto se o comandante encontrasse na mochila uma carta de amor e despedida, de uma direção que já sente saudades antes mesmo dele partir. Na carta, estaria escrito a letra de uma velha canção de Roberto Carlos:
"Você foi dos amores que eu tive, o mais complicado e o mais simples pra mim. Você foi o melhor dos meus erros, a mais estranha história que alguém já escreveu e é por essas e outras que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez".
E quando Paulo Autuori estiver no avião, rumo ao Oriente Médio, vai ler a carta e lacrimejar por ter abandonado tanto amor gratuito. Ou vai ver, Autuori percebeu que nem tem a cara do Grêmio mesmo e que tudo não passou de um amoreco de verão. E assim ele parte para outros braços que, sabe-se lá, possam aceitar a sua própria cara. Enquanto isso, o Tricolor passa o tempo com Marcelo Rospide - o eterno pierrot do estádio Olímpico. Ele que já foi um hobby antes da chegada de Autuori, já espera uma nova chance de reconquistar sua direção. E quando estiver bem próximo de ser amado, o Grêmio encontrará outro amor platônico. E Rospide voltará a ser apenas mais um passatempo na história gremista.
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